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Remédio Sem Causa lança "Controle", seu primeiro álbum


Arte da capa: Duo Anyl



Texto por Juliana Trevisan


O primeiro disco da Remédio Sem Causa veio ao mundo hoje. "Controle" fala sobre uma sociedade disciplinada e impositiva, que exige um bem-estar inalcançável e nos obriga a reprimir raivas, medos e reflexões existenciais. Esses sentimentos são norteadores para as composições do disco, gerando um conforto que nos permite sentir e expurgar tais demônios com o ritmo acelerado do bom e velho punk rock.


A primeira faixa, Monólogo, abre o disco com os dois pés na porta. A participação de Pedro Moreira rasgando o som com seus gritos no backing vocal deu um peso enorme à música, casando perfeitamente com o riff da guitarra e o sentir-se pressionado por todos os lados para conseguir uma vida perfeita e estável ainda tão jovem. "Colapsos diários reduzidos a nada" é provavelmente o trecho que tem mais impacto quando penso sobre as inúmeras crises de ansiedade paralisantes que tive durante o governo Bolsonaro e ele ainda tá lá...


Cinema Japonês já é uma conhecida do público. Nostálgica, ainda mais agora lembrando do show de lançamento, a segunda faixa é bastante sensível e nos faz lembrar daquilo que nunca tivemos exatamente: um mundo sem dor, ódio ou rancor.



A faixa seguinte tem a minha participação e foi uma grande honra, principalmente porque fui chamada com a premissa de fazer um vocal que lembrasse o agudo do riot grrrl (não precisa nem me conhecer pessoalmente pra saber o quanto eu admiro o movimento e as bandas, basta passear por alguns textos aqui do site). Medo fala sobre violência policial e abuso de poder, assim como Vulgar, a quinta faixa, que aborda o horror da necropolítica, desigualdade social e luta de classes numa realidade neoliberal.


Silêncio é a metade do álbum. Seria a última faixa do lado A do vinil e é excelente pra sentir quase que fisicamente uma pausa entre as explosões e indignações das músicas anteriores e das que virão.


Thelema retoma com toda força o exorcismo pessoal que acompanha Controle, num riff bastante marcado e não tem como ouvir essa com a cabeça no lugar, além de ter um dos meus finais favoritos.


Outro single aparece na sequência. Baritimia é tão contagiante que nem parece ser uma música que aborda aquela nostalgia dolorida de madrugada, um momento tão confortável mas tão aberto para paranoias e julgamentos pessoais.



O Vazio traz outra participação especial: Matheus Lopes (e é bastante curioso estar acostumada a ouvir suas bandas indie e shoegaze e se deparar com um potente quase gutural). O som dos pratos da bateria e os riffs casam perfeitamente e existe um elemento quase que visual que parece nos transportar a um ambiente extremamente corrido e cheio, mesmo que isso vá contra o nome da música.


Em Série e Trabalho criticam acidamente a ideia de produtividade e como tudo ao nosso redor agora pende para esta tendência desumana e sem sentido. É fundamental abordar essas questões numa época tão sombria, que parece nos envolver em um transe de produção e desumanização.


Controle é um disco impactante, gostoso de ouvir tanto pra se animar quanto pra expurgar toda raiva de se viver no Brasil em 2021, ou simplesmente ouvir em um looping infinito que é bem estimulado quando você se depara com o vazio pós disco. Com o instrumental impecável, composições extremamente criativas e muito originais, o disco trás a melhor possibilidade do D.I.Y. que uma gravação caseira poderia alcançar (nem dá pra acreditar que praticamente tudo foi feito no quarto, inclusive que eu gravei minha participação dentro do meu guarda roupa).



As cópias físicas do álbum estarão disponíveis em breve na Lojinha da Rapadura e estão cheias de conteúdo extra sobre a produção do disco.


Mixado por Igor Monteiro e Masterizado por Tiago Trotta. Gravado e produzido entre 2019 e 2021 nos quartos das nossas casas e antes da pandemia no Whale B Sound Studio e El Niño.

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