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"A Enciclopedia de Fantasmas" e nossa relação com o passado

  • Foto do escritor: rapadurarecords
    rapadurarecords
  • 3 de jun.
  • 3 min de leitura

Foto por Marina Esther
Foto por Marina Esther



"Miscelânea" é uma pasta de fotos e artes anteriores, disponível na versão especial do novo disco do Tiago Trotta, lançado dia 28 de maio. Miscelânea também é uma das definições possíveis pra falar sobre "A Enciclopédia de Fantasmas". As variadas referências que Tiago traz no disco constroem as possibilidades do seu rock inédito e espontâneo.


"A Enciclopédia de Fantasmas" é uma história contada em 7 músicas. Como boa apreciadora de discos, audição do início ao fim, me sinto lisonjeada em perceber a escolha da ordem das faixas. Nesse caso, a conexão fica clara quando você para pra ouvir com atenção. Explico:


Quando falei sobre Quem me viu? Quem me vê? como single, disse que era uma música sobre amadurecimento, sobre perceber que as coisas não estão mais do mesmo jeito, mas você ainda está ali. Faz todo sentido que ela seja a primeira do disco, com suas quebradas estilo Talking Heads, abrindo espaço para outros sentimentos.



Como Trotta já tinha dito por aqui, Blues no Cemitério é um desses fantasmas que nos assombra num eterno retorno - o que também acaba virando um retorno auditivo com "colo" vocal. Depois, Torpe Coração, vem com algo de Los Hermanos, guitarras dançantes e melodias agudas e brilhantes como Smiths. Essa balada conversa bastante com Blues no Cemitério e esse fantasma de um relacionamento antigo. É como se ambas encerrassem essas questões antigas para surgir o história de No Mesmo Horário, No Mesmo Lugar.



Esta, que também foi lançada como single e é minha favorita, traz a possibilidade do novo, embora com um desejo antigo. A letra, com suas sinestesias, traz leveza e tranquilidade. Mesmo que seja uma espera de uma vida, é como se o amor ainda fosse capaz de facilitar as dificuldades. E, ah, sendo brega, é nossa linguagem universal, em qualquer idioma a gente entende o tal do amor.


Gosto de como Ei, Cuzão vem com outra energia para o disco, afinal, nem só de amor vive o ser humano, mas principalmente de seus vários erros. Me lembro que, quando Trotta apresentou essa pela primeira vez ao vivo, dizendo que era outro de seus fantasmas pessoais. Então, apesar de poder ser usada como indireta, essa é, na verdade, uma direta pro eu lírico e pra gente. É um fantasma pessoal de todas as pessoas que admitem seus erros e percebem comportamentos que precisam mudar.


Fantalogia Empírica pega o espírito assombrado e torna ele mais universal, como um coletivo de fantasminhas que pode se unir pela vulnerabilidade, abordando dificuldades de estar no seu próprio corpo e outros pesos contemporâneos.


Essa beleza na fragilidade também acontece com Desamor em Rapsódias, poema de Christian musicalizado pelo Tiago, que encerra o disco com solos impecáveis e o gosto de colocar pra tocar de novo. O clipe foi lançado recentemente, com registros do João Gusmão e você pode assistir aqui:



"A Enciclopédia de Fantasmas" é um trabalho rico, que impressiona sonoramente, cheio de detalhes e elementos que vão sendo captados a cada ouvida. Saber que foi tudo gravado pelo Tiago - com exceção das percussões que são do André Mendes - dá um toque especial a mais.


Essas histórias, experiências coletivas de aprendizados e aberturas, nos aproxima da interpretação de que não precisamos exorcizar os fantasmas porque foram eles nos transformaram em quem somos. Nossa relação com o passado não precisa ser negativa, mesmo que tenhamos vivenciado experiências complicados. Vivamos então com nossos Gasparzinhos, nos constituindo diariamente.

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