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O legado dos Ramones 25 anos depois do último álbum

Atualizado: 19 de set. de 2020


O último álbum de uma das maiores bandas do punk completa 25 anos hoje. "¡Adios Amigos!" foi lançado dia 18 de julho de 1995 e nos faz pensar sobre a influência e a importância dos Ramones desde a formação da banda.


Foto dos Ramones por dpa picture alliance

A segunda metade do século XX foi marcada por conflitos indiretos entre grandes potências mundiais e, consequentemente, crises culturais e econômicas como reação ao sistema capitalista e as guerras. A segunda metade da década de 1960 carrega o movimento hippie e bandas de rock com canções cheias de solos e de mais de cinco minutos de duração. No início dos anos 70, jovens cansados da hipocrisia flower power e das músicas enormes e prepotentes, desesperançosos quanto ao futuro da humanidade e compreendendo que o padrão e modo de vida exigidos era algo que precisava urgentemente ser posto abaixo, reagem através de letras agressivas, riffs rápido, crus e enérgicos e visual provocativo. Os punks revolucionaram não só o mundo da música como os comportamentos da juventude, incentivando o olhar crítico para o mundo.


A banda cujos integrantes carregariam o título de "criadores do punk" seria formada em 1974 por quatro jovens encrenqueiros descontentes com a vida e principalmente com o que o rock se tornou com as bandas de rock progressivo nos anos 60. Joey, Johnny, Tommy e Dee Dee já se conheciam antes de formar o Ramones.



O primeiro show da banda aconteceu em março de 1974 e o set completo durava menos de 40 minutos. A rapidez das músicas e a postura dos Ramones no palco intrigou e encantou o público e a plateia foi se enchendo cada vez mais de curiosos e fãs, possibilitando com que os shows se tornassem frequentes.



Em cerca de 6 meses já tinham se consolidado enquanto banda e já haviam elaborado o visual que usariam por mais de 20 anos: calças jeans e jaquetas de couro.


O primeiro contrato assinado por eles com uma gravadora rolou em 1976, por mediação de Danny Fields, que anteriormente havia emprestado dinheiro da própria mãe para que comprassem uma bateria nova e se tornar oficialmente empresário da banda. O contrato com a Sire Records garantiu aos Ramones 6 mil dólares, que foram usados em gravações e instrumentos novos. Segundo Dee Dee, o álbum levou 2 dias para ser gravado e ficou pronto em uma semana. O "Ramones" foi lançado em abril de 1976.


Os Ramones fizeram mais 12 discos com a Sire Records, totalizando 14 álbuns de estúdio ao longo dos 22 anos de carreira, além de 6 álbuns ao vivo e 2263 shows. Mesmo que a banda tenha durado mais de duas décadas, a relação dos músicos não era das melhores, a começar pelas posições políticas completamente opostas: enquanto Joey era democrata e tinha pensamentos mais a esquerda, Johnny era um republicano conservador e reacionário. Dee Dee tinha grandes problemas com drogas e depois viria a ser substituído por CJ, enquanto Tommy era bastante explosivo e seria substituído por Marky, que também tinha seus problemas com álcool, saiu da banda e acabou retornando. Por anos, Joey e Johnny não conversaram mais, haviam decidido parar com as alfinetadas para não atrapalhar as performances e gravações. Eles eram músicos profissionais, não um grupo de amigos, portanto, os desentendimentos nunca realmente atrapalharam a qualidade do som deles.



Em 1995, os Ramones decidiram que iriam acabar. Em sua autobiografia (intitulada "Commando: A Autobiografia De Johnny Ramone"), Johnny diz que sentia que o rock era para homens jovens e que eles estavam virando dinossauros (o que explica os dinossauros de sombreiro na capa do último álbum, inspirada na arte de Mark Kostabi que pode ser vista na foto abaixo). Era como se a banda já tivesse feito o suficiente e, além disso, Joey já não cantava todas as músicas nos shows, tendo sido diagnosticado com câncer em 1994. Tendo optado pelo fim, os integrantes resolveram encerrar a carreira de forma refinada: gravar um álbum de despedida acompanhado de uma turnê de mais de 1 ano.



Lançado em 18 de julho de 1995, "¡Adios Amigos!" encerra o ciclo de uma das bandas mais importantes do rock. Na contra capa, os quatro aparecem de costas como se estivessem prestes a serem executados. Johnny conta que estava preocupado com a aparência dos integrantes e com a imagem que o público teria deles, afinal, estavam mais velhos e meio fora de forma. Por isso, convenceu a banda a tirar uma foto de costas e brincou: "Never turn your back, except on the album cover when you might be looking too old." (em uma tradução livre: nunca dê as costas, a não ser na capa do álbum quando talvez você esteja parecendo velho demais).


Contra capa do álbum "¡Adios Amigos!" (1995)

O álbum conta com o total de 13 músicas principais, sendo 6 delas cedidas por Dee Dee, que estava se dedicando a sua carreira de rapper fora da banda. A faixa R.A.M.O.N.E.S. na versão americana e a faixa Spider Man na versão japonesa são extras. Em pouco mais de meia hora, o último disco dos Ramones pode ter uma pegada diferente do primeiro com mais do que 3 acordes de guitarras e viradas de bateria mais trabalhadas mas não deixa a desejar. Os vocais são alternados entre Joey e C.J.


De certa forma, algumas letras tem pesos emocionais importantes, como Life's a Gas e I Love You. Algumas músicas mostram uma pitada de hardcore, principalmente com o beat mais acelerado, viradas mais complexas e o vocal de C.J., por exemplo em Have A Nice Day e Scattergun. As mais aclamadas do álbum são I Don't Wanna Grow Up e She Talks To Rainbows.



"¡Adios Amigos!" pode até não ser tido pelos fãs e críticos como o melhor álbum dos Ramones mas sua importância está no fato de ter sido o último feito por eles, quase como um presente de despedida para o público.


Depois de terem tocado até no Lollapalooza em 1996, o último show da banda aconteceu no The Palace de Los Angeles e foi gravado para o especial Billboard Live, sendo lançado como o álbum "We're Outta Here" em novembro de 1997.




Assim como os Beatles, os Ramones revolucionaram o jeito de tocar e compor. A velocidade e as palhetadas para baixo; o modo simplificado de fazer acordes (técnica conhecida como powerchord); o ajuste das correias deixando os instrumentos na altura dos joelhos; letras irônicas; e o jeito acelerado de conduzir a bateria, todos são marcas que praticamente não existiam antes dos Ramones.


Além de influenciar bandas daquela mesma geração do punk como Sex Pistols e The Clash, os Ramones tem grande importância para as bandas pioneiras do hardcore como Bad Brains, Dead Kennedys e Black Flag e até para bandas de outras vertentes do rock como Metallica, U2 e Motörhead.



Ver uma banda fazer sucesso com músicas compostas por 3 acordes e um beat simples de bateria é inspirador, ainda mais quando os integrantes da banda não se enquadram em padrões sociais, passando parte da vida como excluídos. Imagine quantos adolescentes mudaram suas vidas ao perceberem que podiam tocar um instrumento e se expressar de forma legítima através da música, sem se sentirem fracassados. O legado dos Ramones vai além da sonoridade e implica em atitudes que são verdadeiramente libertadoras.



Fontes e recomendações:

Commando: A Autobiografia De Johnny Ramone - Johnny Ramone

Danny Says (2015) - Dir. Brendan Toller

End of the Century: The Story of the Ramones - Dir. Jim Fields & Michael Gramaglia

Mate-me, por favor: A história sem censura do punk - Legs McNeil & Gillian McCain

Na Estrada Com Ramones - Monte A. Melnick & Frank Meyer




Texto por Juliana Trevisan. Revisão por Igor Monteiro.

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