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Kathleen Hanna e o feminismo no punk


Texto por Juliana Trevisan


Nascida em Portland no dia 12 de novembro de 1968, Kathleen Hanna é um dos principais nomes do movimento riot grrrl, responsável pela retomada das mulheres nos palcos e à frente dos palcos da cena punk dos anos 1990.


Ativista pelos direitos das mulheres, Hanna teve contato com o feminismo através de sua mãe e desde cedo era influenciada pelos ideais do movimento. Ela já fazia textos, fotografias e performances de cunho político e de protesto quando criou junto com Tobi Vail e Kathi Wilcox uma das principais bandas da época: a Bikini Kill.


Kathleen estudou fotografia em Olympia e um de seus trabalhos da faculdade foi censurado antes mesmo de vir a público: uma exibição fotográfica que abordava AIDS e sexismo. Depois desse episódio e junto de Tammy Rae (título de uma das músicas da Bikini Kill) e Heidi Arbogast, Kathleen fundou uma galeria independente, a Reko Muse.



Desde criança, Hanna dizia que tinha uma certeza: queria ser artista, mas não sabia muito bem qual ramo da arte queria seguir. A compositora apresentava spoken word e a escolha de transformar suas performances em shows foi influenciada por Kathy Acker, que disse que as pessoas se interessariam muito mais pelo o que ela tinha a dizer se fosse através de uma banda do que através da poesia falada. Foi assim que a Bikini Kill começou a tomar forma.


O possível estopim pra que o movimento riot grrrl fosse organizado se deu quando Kathleen e outras amigas se depararam com uma capa de revista que questionava se o feminismo estava morto. Isso as irritou tanto que a única saída que acharam era a de usar a música e as zines para divulgar o feminismo que estavam vivenciando e criarem uma comunidade feminista através disso.



O riot grrrl pode ser visto como "feminismo jovem" e conseguia transmitir as discussões da terceira onda do movimento para garotas e adolescentes de forma compreensiva, compartilhando experiências de vida. Kathleen ficou responsável por escrever o manifesto do riot grrrl, consolidando assim a revolução das garotas.



A artista sempre foi muito performática e suas marcas eram as roupas e as atitudes no palco, sempre reafirmando que aquele corpo lhe pertencia e reapropriando termos usados de formas pejorativas, como as vezes que escrevia "slut" (vadia) na barriga. Além disso, Hanna fazia questão de chamar as mulheres e meninas para a frente dos palcos para que tivessem mais espaço pra curtirem os shows com conforto e pra verem a banda tocar e entenderem que era possível formar a própria banda sem precisarem estudar um instrumento por 7 anos.


A Bikini Kill acabou chegando ao fim em 1997. Os xingamentos foram constantes durante todos os anos de atividade da banda, pessoas que diziam que a música era ruim e que julgavam as integrantes pelos seus comportamentos: ou eram feministas demais e queriam separar os homens das mulheres, ou eram pouco feministas e não mereciam o destaque que tinham. No vídeo abaixo Kathleen fala um pouco sobre sua trajetória e sobre querer escrever músicas que abordassem outros temas, sem a responsabilidade de serem hinos feministas:



No mesmo ano, Kathleen lançou um álbum solo que foi escrito, produzido e perfomado em seu próprio quarto e assinado com o pseudônimo Julie Ruin. O trabalho foi como um lembrete à Hanna de que ela era apenas uma pessoa que gostava de criar coisas, como um alívio em meio ao peso político da Bikini Kill na vida da cantora.


Em 1998 surge a banda de rock eletrônico Le Tigre, formada por Hanna, Johanna Fateman e Sadie Benning, que foi substituida por JD Samson em 2001. Com batidas dançantes e performances divertidas, cheias de roupas coloridas e vídeos projetados ao fundo, Le Tigre mantém a atitude política e o vocal estridente do riot grrrl.



Em 2005, Kathleen começou a ter problemas vocais e anunciou que estava cansada dos palcos. Na verdade, a cantora estava doente, tendo sido diagnosticada em 2010 com o estágio final da doença de Lyme. Depois de fazer o tratamento adequado, se juntou com Kathi Wilcox para ressuscitar seu projeto solo e fundar a banda The Julie Ruin, que conta também com a presença de Carmine Covelli, Sara Landeau e Kenny Mellman e tem uma sonoridade influenciada pelo punk, garage rock, dance e rock alternativo.



Com a eleição de Trump nos Estados Unidos, a ascensão da extrema direita em âmbito mundial e os direitos das minorias ameaçados em detrimento disso, Kathleen, Tobi e Kathy decidiram que seria interessante fazer um revival da Bikini Kill: o show de retorno aconteceu em 2019.



A trajetória da artista e ativista punk é bastante comentada quando pensamos no movimento riot grrrl e em mulheres que lideram bandas importantes. Muitas garotas decidiram tocar um instrumento e ter uma banda por influência de Hanna e de suas colegas, tornando possível a apropriação feminina e feminista da história da música e dos palcos na atualidade. Assista ao documentário sobre a vida da cantora no link abaixo:



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