Capa por Eliza Möller
Aqui na Rapadura a gente sempre pregou a palavra do D.I.Y, que, trocando em miúdos, é basicamente a capacidade de você mesmo fazer as coisas. Com o tempo, fomos conhecendo pessoas que também compartilham do mesmo ideal, e essa parceria tem promovido trabalhos extremamente significantes, sem a menor preocupação de explodir nacionalmente. Basta o reconhecimento dos pares e dos ouvintes.
E a sinergia que há entre Rapadura e Gaspacho, uma banda essencialmente D.I.Y e Lo-Fi, é bizarra.
Liz e Juliana já se conheciam há algum tempo antes da pandemia, cada uma com seus projetos musicais e um gosto em comum por bandas femininas punk e indie, principalmente oriundas de Olympia, uma pequena cidade em Washington. Berço do movimento Riot Grrrl, casa de bandas como Sleater Kinney, Bikini Kill, Bratmobile e do famigerado selo K Records.
Já mesmo antes da quarentena, a troca de áudios via WhatsApp passou a ser a ponte principal para a formação do primeiro álbum do duo. Vale áudio gravado por um celular android, vale áudio do zap, vale usar notebook sem interface de áudio. Vale tudo pra fazer acontecer. E com isso nasceu o primeiro single da banda, Pandemônio, lançado aqui em 2020. Tudo de maneira remota.
A Gaspacho encontrou no carioca Victor Damazio a parceria ideal para produzir o restante do disco, como Liz nos conta:
Eu conheci o Victor através do selo Violeta Discos, que era um projeto do Vinicius (irmão do Victor) com o pessoal do Luv Bugs. O primeiro lançamento do selo, e se não me engano único, foi o primeiro ep da Sereno, banda do Victor e do Vini, e eu tinha curtido muito, e visto que o Victor masterizou. Quando eu e a Ju estavamos gravando e pensando em quem mandar pra masterizar, eu pensei nele por ser alguém que fez uma boa masterização, e ele já tinha também masterizado um single da Olympia Tennis Club, minha outra banda, numa gravação bem capenga de celular rs
E o Victor entendeu muito bem a proposta do álbum, que é um verdadeiro soco na cara totalmente imprevisível, rápido e visceral. Misturando a barulheira infernal que a gente adora e a sutileza pop de canções com melodias marcantes, "Gaspacho" soa coeso e orgânico, com uma originalidade invejável.
Claro que somos suspeitos pra falar, já que quem vos escreve é fã da banda e a Juliana é fundadora da Rapadura. Mas a verdade não mente, o trabalho é genial demais. A estética do álbum impressiona, já que parece ser tudo muito bem articulado e decidido, fruto de artistas maduras e voltado à uma audiência que não quer um produto palatável.
Nasce como um clássico instantâneo do Lo-Fi brasileiro. Essa Gaspacho definitivamente tem um sabor picante, daqueles que marcam mesmo.
Muito difícil escolher meu destaque do disco em meio a tanta coisa legal, mas deixo a faixa de abertura, uma das mais punks, pra te deixar curiouser quanto ao que vai encontrar posteriormente. E no próximo parágrafo vamos destruir a institucionalidade mais uma vez e partir pro lado pessoal.
Não poderia terminar esse texto sem agradecer e reafirmar o quanto fico feliz por uma realização artística da Juliana Trevisan, já que sem ela definitivamente meus projetos musicais não seriam a mesma coisa. Se ela acreditou no meu potencial e nas minhas bandas, já seria obrigação no minímo uma retribuição digna. Mas esse trabalho é tão bacana que as minhas palavras nem seriam necessárias pra contemplar o que tá aqui. Valeu Ju! Parabéns à você e Liz por esse clássico.
BREVE: CD FÍSICO DO PRIMEIRO ÁLBUM DA GASPACHO NA LOJINHA ONLINE DA RAPADURA.
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