Ano passado uma de nossas maiores diversões caseiras foi acompanhar o movimento dos festivais de cinema acontecerem na tela de nossos computadores. Um desses festivais foi o In-Edit Brasil. A 13ª edição do festival começou no dia 16 de junho e este ano todo o dinheiro arrecado será doado para a Pastoral do Povo da Rua, coordenada pelo Padre Júlio Lancellotti.
Dentre os diversos documentários que trazem histórias de artistas nacionais e estrangeiros — como "Sisters With Transistors" (2020), de Lisa Rovner, "Jair Rodrigues - Deixa que Digam" (2020), de Rubens Rewald, "Raízes – Um Piano na Amazônia" (2018), de Carla Ruaro, João Santos e Tatiana Cobbett, "Secos & Molhados" (2020), de Otávio Juliano, "João Bosco e Aldir Blanc - Parceria é isso aí!" (2021), de Pedro Pontes, "Poly Styrene: I Am a Cliché" (2021), de Celeste Bell e Paul Sng e "Dont Look Back" (1967), de D. A. Pennebaker — o curta "Anti-corpos - pieces of a queer tour" (2020), de Brunella Martina, é o destaque deste post.
Helena Krausz tinha 13 anos quando, junto de Veri Fozzato, conheceu outras pessoas que estavam fazendo punk feminista e resolveram formar a própria banda. “Basicamente aprendemos a tocar fazendo covers de bandas que gostávamos, como Bulimia, Dominatrix e Menstruação Anárquica”, disse Helena à Revista AzMina.
Anti-Corpos é uma banda punk queer feminista que sempre discutiu gênero e machismo em suas composições. A primeira demo da banda, “Caminhos e Escolhas”, foi gravada em 2004, também ano de estreia do grupo nos palcos, no primeiro festival Hard Grrrls. Hoje é formada por Helena, Adriessa, Marina e Andrzej.
A banda excursionou em 2015 pela Europa e foi lançada lá pela Emancypunx Records. É no momento em que retornam da Alemanha que o curta é gravado, quando a banda faz uma turnê pelo Brasil com um propósito claro: "posicionar-se politicamente em tempos que o país flerta com ideais reacionários." (trecho usado para descrever o filme).
A banda acredita que o punk é um meio transformador, capaz de mobilizar e fortalecer mulheres cis, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e não binárias na luta contra o fascismo em ascendência no Brasil. O curta de Brunella Martina traz excertos dos shows feitos na turnê de 2019 intercalados com depoimentos da banda que reforçam a importância dos shows para dar ânimo e forças para as minorias.
Andrzej Profus, atual guitarrista, se identifica como uma pessoa de gênero neutro e traz uma reflexão interessante sobre identificação, relatando a dificuldade de desvincular a ideia da Anti-Corpos ser uma "banda de mina", então pontua a complexidade de ser uma pessoa que não se identifica como mulher mas que entende também a importância de apoiar a identidade feminina para outras pessoas.
Outro ponto notável é destacado por uma fala de Helena, que diz sobre a necessidade de fazermos algo ao mesmo tempo que vê a importância de ficarmos tristes diante da política nacional. É importante nos mobilizarmos e também nos cuidarmos.
Para assistir "Anti-corpos: pedaços de uma turnê cúir" (2020) clique aqui
Texto por Juliana Trevisan
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