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"Ruptura": faixa a faixa do novo disco da Remédio Sem Causa

  • Foto do escritor: rapadurarecords
    rapadurarecords
  • 22 de mai.
  • 3 min de leitura

Capa por Igor Monteiro
Capa por Igor Monteiro


Por Juliana Trevisan


Ruptura” vem sendo pensado, produzido e aprimorado desde o lançamento de “Controle” (2021). O segundo disco da Remédio Sem Causa chegou dia 21 nas plataformas de streaming, mas já tinha sido ouvido com antecedência pelo grupo de apoiadores – que arrecadaram algo em torno de 42.857 plays no Spotify.


O modelo de lançamento pensado pela banda também está alinhado ao nosso pensamento enquanto selo: possibilitar a monetização e a valorização da arte independente de plataformas milionárias que pagam 0,028 centavos por play. Assim, os apoiadores contribuíram com o valor possível e tiveram acesso às músicas desde o dia 16.



A materialização de “Ruptura” é um lembrete da potência da cultura do Faça Você Mesme. Novamente, grande partes das gravações foi feita em casa, com equipamentos e técnicas aprendidas pelos membros da banda de forma autônoma. As baterias foram gravadas no Tuiuti Studios, com auxílio dos queridos da Roboto.


Tsukuru sempre foi uma das minhas preferidas: as métricas quebradas conversando com o agudo das notinhas soltas da guitarra formam texturas prazerosas pros ouvidos acostumados com Gang of Four, PIL e outras bandas de post punk vanguardistas. Essas camadas se amplificam com o crescer dos instrumentos no refrão e é uma ótima escolha pra abrir o disco. Ela é como sentir o cheiro da sua comida preferida: você sabe que o que vem vai ser bom sem nem precisar sentir o gosto.



Seu Nome é um soco na boca do estômago. Ela traz o tom das letras emotivas que a banda trabalha há algum tempo e, sem deixar claro exatamente com quem está falando, produz lembranças e experiências coletivas. Ainda bem que temos amizades que prometem que as coisas vão melhorar.


Alef tem uma sonoridade nostálgica, um toque de Pixies, Sonic Youth, algo de Dinosaur Jr. referências a Jair Naves e Ludovic. A guitarra crocante bate na sua cara com a força que o Luiz bate no bumbo e anima a alma depois da faixa anterior. O dueto Igor e Tiago nos vocais também traz um brilho especial pra música.


Semi-Sóbrio (Lomas) já tinha sido disponibilizada pela banda em 9 de julho de 2024, um ano de falecimento do Lomão. Lomão foi um apoiador gigante da Remédio e de diversas bandas da cidade, de humor ácido, riso fácil, referências preciosas e opiniões importantes. Essa letra foi escrita por ele e é sempre uma das que mais me emociona. A batida frenética me lembra Baritmia, música do “Controle” com clipe produzido por ele. Gosto de pensar nessa semelhança e homenagem e em como Lomão adorou essa quando ouviu pela primeira vez. Ele teria amado o disco todo.


Seres Estranhos é uma balada emotiva com um solo de guitarra melancólico que insere o mais The Cure que a RSC pode ser no momento, em meio a tantas experimentações e referências. Se estivéssemos falando de um disco de vinil, a faixa finalizaria bem o lado A do disco, parte que traz discursos mais íntimos.


Juventude Sônica é uma surpresa magnífica. Ouça. (Foi eleita a faixa preferida no grupo de apoiadores).


Almoço Nu tem percussões de bossa que também surpreendem e já tinha sido lançada como single. Aqui é óbvio que o destaque também vai pro Jair Naves, grande referência que aceitou de prontidão o convite pra colaborar com a potência do álbum.


Ao meu ver, Desprezo, Má Influencer e Novo Normal se relacionam entre si de alguma forma. Há aqui uma crítica sobre lugares políticos, problemas sociais naturalizados pela ideologia dominante e uma angústia individual que pode ser compartilhada e experienciada de forma coletiva.


Eu sei que Novo Normal foi feita na época da pandemia, quando estávamos ouvindo esse termo o tempo todo e, ouvindo, eu consigo sentir perfeitamente os atravessamentos de olhares por estar usando máscara, o desespero de ficar sem encontrar as pessoas, o medo constante e a raiva de encarar aqueles que não ligavam mais pra situação. A música ainda conta com a ilustre participação do Luís Couto (Churrus, Devise) com sua voz e técnica marcantes.


Capital é um black metal que me dá vontade de colocar fogo em pneu na rua. Me lembra uma versão complexificada do que o Igor chamava de “Conjuntura Política Atual” nos shows, quando manipulava os pedais como um grito de raiva e socorro.



“Ruptura” realmente rompe com momentos anteriores, tira a banda de uma zona sonora conhecida e os leva pra explorar outras possibilidades, ainda que as críticas sociais e pessoalidades sempre estejam presentes – eu diria que são a alma da banda. As alterações na formação garantiram esse novo olhar, cada vez mais maduro, construído com centenas de horas de trabalho.


Vida longa a RSC! 



Todas as fotos por @mvanbq e @yangabriel.mov

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